DE J.D. PARA GUIAR TEDES
Busquei fruir os sons de lira altiva
Que às carícias de Tedes ecoara.
Tal era a fama, sim tão bela e rara,
Da ardente musa de seus dons cativa.
Agora sei porém, por mais que viva,
Por mais que amargue deste mundo a tara,
Jamais terei de haver-me, cara a cara,
Com tão infame e pífia inventiva.
Eu que pensara ouvir sublime hino,
Que do ordinário me elevasse a vista,
De cu em cu vaguei, cruel destino.
Mas a verdade, hélas, por fim conquista;
Se toda a merda nasce no intestino,
Vive e morre na mente desse artista!
DE GUIAR TEDES PARA J.D.
“Sátiras prestam, sátiras se estimam
Quando nelas Calúnia o fel não verte”
(Bocage)
Não me ofendo, senhor, nem faço caso
De anônimas perfídias e ironias
Quais as vossas perversas porcarias
Que em responder agora me comprazo.
As vossas falsidades deram azo
A que eu compare aqui nossas porfias:
Eu falo em gretas doces e macias
E vós falais de cus no mesmo prazo.
Em vossos versos demonstrai às claras
Que amais da merda as fedorentas grutas
Que de guarida servem às rijas varas;
Mas eu canto, nos meus, conas hirsutas,
Chochotinhas febris, bucetas raras,
De princesas, de fadas e de putas.
DE J.D. PARA GUIAR TEDES
Justa afronta movera minha pena
Que de estultícias nunca compartilha.
Nem pensara que Musa assim serena
Enxovalhada fosse em vil quizília.
Mas se a infâmia é farpa que envenena,
Cumpre exprobrar aquele que a perfilha,
Pois quem de anais pendores me condena
Em merda traça a tenebrosa trilha.
A vós – que tanto amais a rima imunda,
O verso chulo, a tara odienta –
Oferto aqui repulsa mais profunda
E enfim registro tudo que me alenta:
De fêmea ardente a curvilínea bunda,
O farto seio, a vulva suculenta.
DE GUIAR TEDES PARA J.D.
Teus sonetos revelam, com malícia,
Inquietações de adolescente afeito
Ao priapismo e às poluções no leito
Disfarçadas com certa pudicícia.
Se bundas feminis te causam o efeito
De ejacular sonetos com blandícia
(os piores de que se tem notícia)
Meu caro amigo, já não tens mais jeito!
Por Vênus calipígia, que te inspira
Esse teu estro desbocado e cru,
É que atraíste do parnaso a ira;
E agora eis o que deves fazer tu:
Dobra, bem dobradinha, a tua lira
E, em seguida, enfia-a no cu.
DE J.D. PARA GUIAR TEDES
A paciência minha nem é pouca,
Mas não bastante pra calar-me a boca
Quando um parceiro, falto de argumento,
Recorre assim ao mero xingamento.
Se minha musa, dizes, anda rouca
E no Parnaso é tida como louca,
A tua atende em lupanar nojento
E só se inspira em sonhos de excremento.
Teu verso indica, é Freud quem alerta,
Anais impulsos a que tu não cedes
E em vão sublimas dessa forma incerta.
Mas, para um leigo, em tua mente fedes
Qual vazadouro, qual cloaca aberta,
Ó conturbado, ó pobre Guiar Tedes.
DE GUIAR TEDES PARA J.D.
Que a Musa estenda o manto benfazejo
Por sobre a liça, trágica e sangrenta,
Onde Guiar a um poetastro enfrenta
Colhendo glória e louros de sobejo.
Da minha lira suja não me pejo
Mas o charco em que vives não me tenta;
Antes, prefiro a reconquista lenta
Da perfeição formal que tanto almejo.
Eia, sus, aprendiz tardo e bisonho
Que em vão procuras ouro entre o cascalho;
Recolhe o desafio que te imponho
E as penas sofrerás de novo Ordálio
Para glosar o mote que proponho:
“Cus em repouso, e picas ao trabalho”.
DE J.D. PARA GUIAR TEDES
Da ironia a espada mais cortante
Não penetrara a dura carapaça
De quem se crê poeta, mas não passa
De trêfego jogral, cruel farsante.
Vós confundis talento com talante
E gentil graça com vulgar chalaça,
Só não encontrareis a menor jaça
Neste meu estro claro e rutilante.
Aos cus se dê repouso merecido
Das tenebrosas incursões verbais
Que vossos verbos cantam com alarido.
Quanto ao labor das picas, nada mais
Direi para que seja bem ouvido:
Trato da minha – d’outras, vós cuidais!
DE GUIAR TEDES PARA J.D.
Por ter estado do Parnaso ausente
Durante muito tempo, faço agora
Nova glosa, com lira mais sonora
E coração mais presto e diligente.
Percebo, por teus versos, que somente
De ti próprio te ocupas cada hora,
Sem permitires a ninguém de fora
Cuidados ao teu órgão mais potente.
Mais se conhecem os homens, mais espanto
Nos provocam as surpresas do amanhã:
Sei que às vezes sucumbe o monge santo
Na cela escura, ao solitário afã,
Mas não te houvera acreditado tanto,
Tão devotado seguidor de Onan.
DE J.D. PARA GUIAR TEDES
No Pentateuco lê-se que Onam
Não praticava o solitário esporte
Por perversão ou distração malsã,
Mas por motivo de ordem bem mais forte:
Pois se Tamar lhe vinha pela morte
De seu irmão que não honrara o clã,
Justificado estava, ingrata sorte,
Em derramar ao solo a seiva vã.
O bíblico episódio aqui relembro
Pois, na vida, ninguém escapa à bronha
Do ardente maio às cinzas de dezembro,
E nada alcança aquele que não sonha.
Mas teu franco fascínio por meu membro,
Hás de convir, é coisa que envergonha.
SONETO AO CARALHO DE J.D.
É um exemplo perfeito de ato falho
E do exibicionismo de um Narciso
Tua crença infantil de que é preciso
Que todos cantem loa ao teu caralho.
És como o eunuco à porta do serralho
Da concubina a ouvir lascivo riso
Que a mão leva à virilha e de improviso,
Lamenta a falta ali do rijo galho.
Não por primeira vez lhe dou conselhos
Por que o dom da humildade em ti não morra:
Vai ao teu quarto, cerca-te de espelhos,
Bate uma bronha, e antes que a seiva escorra,
Vê se o que tens no meio dos pentelhos
Merece o nome arcádico de porra.
DE J.D. PARA GUIAR TEDES
Muitos são os caminhos desta vida –
Vergéis floridos, lúgubres desertos –
E quem garante a hora da partida
Vê que o rumo e a chegada são incertos.
Assim lancei-me, d’alma e peito abertos,
Nesta liça a que o estro nos convida,
Muito embora alertassem os mais espertos
Que me aguardava guerra sem guarida.
Jamais crera, porém, que em branco e preto
Confrontaria tara tão medonha,
Que de meu pau faz tema de soneto.
Cumpre, pois, que a verdade aqui se exponha:
Meu sêmen será sempre, te prometo,
Mais potente que tua vil peçonha!
DE J.D. PARA GUIAR TEDES
Longínqua soa, já, a voz do bardo
Que outrora ousou brandir lira obtusa
Ante a ponta aguçada de meu dardo
Para sofrer derrota sem escusa.
Sedento estou, qual fero leopardo,
Do sangue farto desta vossa musa.
E, como não vos tenho por bastardo,
Jamais contemplarei tíbia recusa.
Busco, porém, porfia nobre e sã,
A que não falte empenho varonil
E a necessária nota folgazã.
Se retrucardes pois, de forma vil,
No vão apelo à linguagem chã,
Mando-vos logo à puta que o pariu.