Menções Acadêmicas, Em Livros e Em Entrevistas

  1. COMO DIPLOMATA

DIÁRIOS DA PRESIDÊNCIA 1995-1996

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

No final do dia reunião longuíssima aqui no Alvorada com vários embaixadores: o Paulo Tarso, o Jorio Dauster, o Celso Lafer, o Azambuja, sobre a questão da nossa defesa na Organização Mundial do Comércio, e também com o Lampreia, o Serra, o Clóvis, o Beto Mendonça, a Dorothea. Depois jantamos. O Serra insistiu muito nos seus pontos de vista, de um modo quase agressivo de tão obstinado; todos os embaixadores consideram que a matéria para nós está perdida. É muito difícil defender o novo regime automotivo, a imposição de cotas na questão de importação de automóveis. Nós não avisamos a OMC a tempo, o novo regime é contra o espírito e a letra do Tratado. Serra insiste que se trata de uma questão que podia ser tornada política. Os embaixadores, está na cara, não acreditam em nada disso. Tentaremos defender da melhor maneira possível, mas acho que vamos perder.

Fora disso, um longo e interessante debate sobre o Mercosul. De novo, o Serra colocou seus pontos de vista um tanto restritivos, todos os demais salientam a importância do Mercosul, e também na questão hemisférica, o Paulo Tarso corrigiu uma observação que eu fiz de que era uma estratégia americana, mostrou que isso foi feito um pouco au jour le jour, de qualquer forma hoje existe essa integração hemisférica. Bela discussão acerca de todas essas matérias, a relação do comércio exterior com a nossa política externa e a necessidade de ter aí um locus de decisão.

…..

O PAPEL DO ITAMARATY NA DEFINIÇÃO DA POLÍTICA EXTERNA DO GOVERNO COLLOR DE MELLO

GUILHERME STOLLE PAIXÃO E CASARÕES

Há, além dos “formadores ideológicos” do discurso de Collor, outras indicações diplomáticas dignas de nota. Jório Dauster, durante a gestão econômica de Zélia Cardoso de Mello, foi a ponta de lança da renegociação da dívida externa junto aos credores norte-americanos. A Marcílio Marques Moreira, figura de fortes traços liberais (Moreira 2001), coube a continuidade dos trabalhos como embaixador brasileiro em Washington, interrompido somente em maio de 1991 para que o diplomata assumisse o “superministério” da Economia.

…..

ARGENTINA AND SOUTH AFRICA FACING THE CHALLENGES OF THE XXI CENTURY = BRAZIL AS THE MIRROR IMAGE

GLADYS LECHINI

As it is well-known, the main problem at that time was rescheduling the foreign debt, which was being pushed by the Minister of the Economy. However, curiously enough it was a diplomat, Ambassador Jório Dauster, not an Economy official, the main negotiator.

…..

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS – CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC

LEITURAS BRASILEIRAS SOBRE A NOVA ORDEM INTERNACIONAL (1989-1994)

ANDREA RIBEIRO

É interessante notar que em editorial do caderno Mais!, do jornal A Folha de São Paulo de 18 de dezembro de 1994 – portanto, antes da posse de Fernando Henrique – a diplomacia brasileira seria celebrada por entrar “na era da globalização econômica” e por começar a “trocar o terceiro-mundismo pelo discurso internacionalista”. Nessa edição especial, publicaram artigos os diplomatas Roberto Abdenur, Celso Amorim, Jório Dauster, Ronaldo Mota Sardenberg, e o professor da USP José Guilhon Albuquerque, além dos articulistas do jornal.

Para Souza (1994), os “neobarbudinhos” aliariam a defesa de uma política externa autônoma, mas concordariam na necessidade de reduzir o Estado, eliminar barreiras protecionistas e atrair investimentos estrangeiros para o Brasil, assim como a redução das tarifas de importação. Haveria então uma convergência entre as opiniões dos “meninos do Silveira” e os grupos de Paulo Tarso Flecha de Lima (embaixador em Washington) e Jório Dauster (então embaixador junto a Comunidade Econômica Europeia). Contudo, esse novo grupo que chegava às posições de comando dentro do Ministério das Relações Exteriores, evitava qualquer tipo de rótulo e preferia definir-se como universalista. O Itamaraty finalmente aceitava os ventos da mudança, que pleiteavam uma posição ativa do Brasil no cenário internacional.

…..

ATITUDES E PERCEPÇÕES DAS ELITES E DA POPULAÇÃO SOBRE A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NOS ANOS 90

DENILDE OLIVEIRA HOLZHACKER

De acordo com Meza (2002b), pode-se enumerar três objetivos centrais do Mercosul na agenda diplomática brasileira: (1) permitir a abertura gradual da economia brasileira à economia mundial; (2) enfrentar os desafios econômicos e políticos frente à integração hemisférica; (3) alcançar o reconhecimento mundial como líder do bloco econômico (Meza: 2002b: 13).

Dauster (1997-CI), por outro lado, enfatiza a integração como parte do movimento de modernização econômica do País, sendo que seu objetivo é aumentar a prosperidade entre seus membros, contribuindo para o aumento dos fluxos internacionais de comércio, investimentos de capitais e de tecnologia em toda a região. Esse argumento contém a visão de que o Mercosul apresenta as bases para um “modelo de desenvolvimento conjunto”. Dessa forma, após o  período de implementação de aspectos comerciais deve-se passar ao estudo de políticas coordenadas nos setores da indústria, comércio e serviços. O objetivo é “elevar a “competitividade internacional” desses setores. A intensificação do comércio entre os parceiros é um meio de facilitar a inserção brasileira no mercado mundial.

A concepção apresentada por Fernando Henrique Cardoso reforça a visão de que o Mercosul é  um processo político, intensificado pelo diálogo entre os Governos, com isso, reforçando a consolidação democrática no Continente. Entretanto, na opinião de Cardoso, mesmo sendo um processo irreversível, não poderia ser entendido como uma iniciativa “fechada em si mesma ou obstáculo aos esforços multilaterais para a liberalização do comércio internacional”.

…..

O BRASIL E AS NEGOCIAÇÕES MULTILATERAIS

SHIGUENOLI MIYAMOTO

Jório Dauster, representante do Brasil em Bruxelas nos últimos sete anos e atual presidente da Companhia do Vale do Rio Doce, enfatizava no Instituto Brasil-Europa nas discussões preparatórias, poucos dias antes da Reunião de Cúpula, que na realidade não eram apenas os subsídios agrícolas que ocupavam o centro das discussões. Tratava-se, diz Dauster, de mais do que isso, ou seja, fundamentalmente devia-se pensar na política protecionista implementada pelos países desenvolvidos. Portanto, nada de diferente daquilo que já ocorria desde a década passada e que se constituiu em motivo de reclamações frequentes de países como o Brasil que, inclusive, se sentia claramente discriminado, já que outros vizinhos latino-americanos, usufruíam de condições muito mais favoráveis para exportar seus produtos rumo aos mercados norte-americano e europeu. O embaixador lembrava, ainda, que na realidade havia necessidade de se “derrubar os mitos das negociações agrícolas com a União Europeia, e com a França em particular, porque quem produz beterrabas são grandes empresas francesas que tem interesse em manter protecionismo”. Este fato, inclusive, era reconhecido pelo francês Jean Pierre Simonnet, presidente do Instituto Brasil-Europa.

  • COMO TRADUTOR

THE IMPLICATIONS OF REPLACING A PROFESSIONAL TRANSLATOR BY AUTOMATIC          TRANSLATORS

ADRIELI APARECIDA DA SILVA E MARIANA HELENA DA SILVA

We presented the original text and then a table divided into two parts: in the first column there is the text translated by an automatic translator; in the second one there is the official translation made by a professional translator. [Traduzido por Ávaro Alencar, Antônio Rocha e Jorio Dauster]

The first textual genre that we analyzed was literary. We chose a part of Chapter 1 of the book The Catcher in the Rye, by J. D. Salinger (1919-2010), released in 1951 (Table 1). The reason why we chose this specific text is because it has an informal tone, as the character is a eenager boy of another time. The translation is from “Editora do Autor”, a Brazilian publishing ompany, and was released in 2012 (Table 2).

The chapter starts with the character telling a little about his life, as how his parents would not want him to tell to the reader about his personal life and that he has a brother called D.B., who is a writer in Hollywood. Then he introduces that he is going to tell the story about what happened last Christmas in Pencey Prep, a preparatory school where he lives and hates it.

Table 1 – Excerpt from the book The Catcher in the Rye by J. D. Salinger

ORIGINAL

Chapter 1

IF YOU REALLY WANT TO HEAR about it, the first thing you’ll probably want to know is where I was born, and what my lousy childhood was like, and how my parents were occupied and all before they had me, and all that David Copperfield kind of crap, but I don’t feel like going into it, if you want to know the truth. In the first place, that stuff bores me, and in the second place, my parentes would have about two hemorrhages apiece if I told anything pretty personal about them. They’re quite touchy about anything like that, especially my father. They’re nice and all. I’m not saying that-but they’re also touchy as hell. Besides, I’m not going to tell you my whole goddam autobiography or anything. I’ll just tell you about this madman stuff that happened to me around last Christmas just before I got pretty run-down and had to come out here and take it easy. I mean that’s all I told D.B. about, and he’s my brother and all. He’s in Hollywood. That isn’t too far from this crumby place, and he comes over and visits me practically every week end. He’s going to drive me home when I go home next month maybe. He just got a Jaguar. One of those lithe English jobs that can do around two hundred miles an hour. It cost him damn near four thousand bucks. He’s got a lot of dough, now. He didn’t use to. He used to be just a regular writer, when he was home. He wrote this terrific book of short stories, The Secret Goldfish, in case you never heard of him. The best one in it was “The Secret Goldfish.” It was about this little kid that wouldn’t let anybody look at his goldfish because he’d bought it with his own money. It killed me. Now he’s out in Hollywood, D.B., being a prostitute. If there’s one thing I hate, it’s the movies. Don’t even mention them to me.

Where I want to start telling is the day I left Pencey Prep. Pencey Prep is this school that’s in Agerstown, Pennsylvania. You probably heard of it. You’ve probably seen the ads, anyway. They advertise in about a thousand magazines, always showing some hot-shot guy on a horse jumping over a fence. Like as if all you ever did at Pencey was play polo all the time. I never even once saw a horse anywhere near the place. And underneath the guy on the horse’s picture, it Always says: “Since 1888 we have been molding boys into splendid, clear-thinking Young men.” Strictly for the birds. They don’t do any damn more molding at Pencey than they do at any other school. And I didn’t know anybody there that was splendid and clear-thinking and all. Maybe two guys. If that many. And they probably came to Pencey that way.

Anyway, it was the Saturday of the football game with Saxon Hall. The game with Saxon Hall was supposed to be a very big deal around Pencey. It was the last game of the year, and you were supposed to commit suicide or something if old Pencey didn’t win. I remember around three o’clock that afternoon I was standing way the hell up on top of Thomsen Hill, right next to this crazy cannon that was in the Revolutionary War and all. You could see the whole field from there, and you could see the two teams bashing each other all over the place. You  couldn’t see the grandstand too hot, but you could hear them all yelling, deep and terrific on the Pencey side, because practically the whole school except me was there, and scrawny and faggy on the Saxon Hall side, because the visiting team hardly ever brought many people with them.

Table 2 – Translations to Portuguese of the excerpt from The Catcher in the Rye

AUTOMATIC TRANSLATION

O apanhador no campo de centeio,  por J. D. Salinger

Capítulo 1

Se você realmente quer ouvir sobre isso, a primeira coisa que provavelmente vai querer saber é onde eu nasci, e como foi minha péssima infância, e como meus pais estavam ocupados e tudo antes de mim, e tudo o que David Copperfield é uma porcaria, mas não tenho vontade de entrar nisso, se você quer saber a verdade. Em primeiro lugar, essas coisas me aborrecem e, em segundo lugar, meus pais teriam cerca de duas hemorragias cada se eu contasse algo bastante pessoal sobre elas. Eles são bastante sensíveis sobre algo assim, especialmente meu pai. Eles são legais e tudo mais – não estou dizendo isso – mas também são sensíveis como o inferno. Além disso, não vou contar toda a minha maldita autobiografia ou qualquer coisa. Vou apenas falar sobre essas coisas loucas que aconteceram comigo no Natal passado, pouco antes de eu ter me atrapalhado e ter que vir aqui e ir com calma. Quero dizer, foi tudo o que eu disse a D.B. sobre, e ele é meu irmão e tudo. Ele está em Hollywood. Isso não é muito longe deste lugar ruim, e ele vem me visitar  praticamente todo fim de semana. Ele vai me levar para casa quando eu voltar para casa no próximo mês, talvez. Ele acabou de comprar um Jaguar. Um daqueles trabalhos ingleses ágeis que podem fazer cerca de 300 quilômetros por hora. Custou-lhe quase quatro mil dólares. Ele tem muito dinheiro agora. Ele não costumava. Ele costumava ser apenas um escritor regular, quando estava em casa. Ele escreveu este livro fantástico de contos, O Peixe Dourado Secreto, caso você nunca tenha ouvido falar dele. O melhor foi “O Peixe Dourado Secreto”. Era sobre esse garotinho que não deixava ninguém olhar seu peixinho dourado porque ele o comprara com seu próprio dinheiro. Isso me matou. Agora ele está em Hollywood, D.B., sendo uma prostituta. Se há uma coisa que eu odeio, são os filmes. Nem os mencione.

Onde quero começar a contar é o dia em que saí de Pencey Prep. Pencey Prep é esta escola em Agerstown, Pensilvânia. Você provavelmente já ouviu falar disso. Você provavelmente já viu os anúncios, de qualquer maneira. Eles anunciam em cerca de mil revistas, sempre mostrando um cara quente em um cavalo pulando uma cerca. Como se tudo que você fizesse em Pencey fosse jogar polo o tempo todo. Eu nunca vi um cavalo sequer perto do lugar. E por baixo do sujeito na foto do cavalo, sempre se diz: “Desde 1888, temos moldado os meninos em jovens esplêndidos e de pensamento claro”. Estritamente para os pássaros. Eles não fazem mais nada em Pencey do que em qualquer outra escola. E eu não conhecia ninguém lá que fosse esplêndido e claro e tudo mais. Talvez dois caras. Se são tantos. E eles provavelmente vieram para Pencey dessa maneira.

Enfim, era o sábado do jogo de futebol com o Saxon Hall. O jogo com o Saxon Hall deveria ser um grande negócio em torno de Pencey. Era o último jogo do ano, e você deveria cometer suicídio ou algo assim se o velho Pencey não vencesse. Lembro-me que por volta das três horas da tarde eu estava parado no alto de Thomsen Hill, bem ao lado desse canhão louco que estava na Guerra Revolucionária e tudo. Você podia ver todo o campo a partir daí e as duas equipes se baseando em todo lugar. Você não podia ver a arquibancada muito quente, mas podia ouvi-los todos gritando, profundos e fantásticos no lado de Pencey, porque praticamente toda a escola, exceto eu, estava lá, e magricela e bicha no lado do Saxon Hall, porque a equipe visitante quase nunca trouxe muitas pessoas.

OFFICIAL TRANSLATION

O Apanhador no Campo de Centeio, por J. D. Salinger

Capítulo 1

Se querem mesmo ouvir o que aconteceu, a primeira coisa que vão querer saber é onde eu nasci, como passei a porcaria da minha infância, o que meus pais faziam antes que eu nascesse, e toda essa lengalenga tipo David Copperfield, mas, para dizer a verdade, não estou com vontade de falar sobre isso. Em primeiro lugar, esse negócio me chateia e, além disso, meus pais teriam um troço se eu contasse qualquer coisa íntima sobre eles. São um bocado sensíveis a esse tipo de coisa, principalmente meu pai. Não é que eles sejam ruins – não é isso que estou dizendo – mas são sensíveis pra burro. E, afinal de contas, não vou contar toda a droga da minha autobiografia nem nada. Só vou contar esse negócio de doido que me aconteceu no último Natal, pouco antes de sofrer um esgotamento e de me mandarem para aqui, onde estou me recuperando. Foi só isso o que contei ao D.B., e ele é meu irmão e tudo. Ele está em Hollywood. Não é muito longe deste pardieiro, e ele vem me visitar quase todo fim de semana. Quando eu voltar para casa, talvez no mês que vem, é ele quem vai me levar de carro. Comprou há pouco tempo um Jaguar, um desses carrinhos ingleses que fazem uns trezentos quilômetros por hora e que custou uns quatro mil dólares. D.B. agora vive nadando em dinheiro, mas antigamente a coisa era outra. Quando morava conosco era apenas um escritor. Se é que nunca ouviram falar nele, foi D.B. quem escreveu aquele livro de contos fabuloso, O Misterioso Peixinho Dourado. O melhor conto do livro era a estória do garotinho que não deixava ninguém ver seu peixe dourado, só porque o tinha comprado com seu próprio dinheiro. Achei o máximo. Agora D.B. está em Hollywood, se prostituindo. e há coisa que eu odeie, é cinema. Não posso nem ouvir falar de cinema perto de mim.

Vou começar a contar do dia em que saí do Internato Pencey. O Pencey  é aquele colégio em Angerstown, na Pensilvânia. Já devem ter ouvido falar nele, ou pelo  menos visto os anúncios. Eles fazem propaganda em mais de mil revistas, mostrando sempre um sujeito bacana, a cavalo, saltando uma cerca. Parece até que lá no Pencey a gente passava o tempo todo jogando pólo. Pois nunca vi um cavalo por lá, nem mesmo para amostra. E, embaixo do desenho do sujeito a cavalo, vem sempre escrito: “Desde 1888 transformamos meninos em rapazes esplêndidos e atilados”. Pura conversa fiada. Não transformam ninguém mais do que qualquer outro colégio. E não vi ninguém por lá que fosse esplêndido e atilado. Talvez dois sujeitos, se tanto. E esses, com certeza, já chegaram lá assim.

De qualquer modo, era o sábado do jogo de futebol com o Saxon Hall, considerado um grande acontecimento no Pencey. Último jogo do ano, era caso para suicídio ou coisa parecida se o Pencey não vencesse. Lembro-me que eram umas três horas da tarde, e eu, em pé, lá em cima do morro, bem ao lado de um canhão maluco da Guerra da Independência. Dali podia ver o campo todo, os dois times se  massacrando por toda a parte. Não dava para ver direito as arquibancadas, mas dava para se ouvir os gritos da torcida, fortes e terríveis do lado do Pencey, porque o colégio em peso estava lá – menos eu – e débeis e desanimados do pessoal do Saxon Hall, porque o time visitante quase nunca trazia muita gente.

The automatic translation, made especially by Google Translator from English to Portuguese, is comprehensible if the purpose is just to understand the context. However, it may not be appropriate to put it on a book because some words and expressions were not translated to keep the purpose of the text. In addition, it is important to consider that Holden, the main character, is a teenager living in the 1940s and the narrative expresses it with slangs and an informal tone; and that there are nuances of emotions throughout the romance, therefore it is interesting to think about a translation that similarly carries these aspects.

To illustrate this argument, the excerpt “[…] and all that David Copperfield kind of crap” became “e tudo o que David Copperfield é uma porcaria”. In this case, a research is necessary to find out who David Copperfield is and why he is mentioned in this part. David Copperfield is the main character from a book written by Charles Dickens (1812-1870) in 1850 and the context is similar to The Catcher in the Rye, and that is the reason why he is mentioned by the character Holden Caulfield. It is a simple research; however, Google Translator does not consider the various meanings and the context of the text that it is translating, causing a completely different interpretation, suggesting that David Copperfield himself is “crap”.

Differently, the professional translator performed what is supposed to be an actual act of translating: interpretation and rewriting, taking pragmatics into account. The result is a more fluent and comprehensible text: “[…] e toda essa lengalenga tipo David Copperfield”.In another excerpt, “One of those little English jobs that can do around two hundred miles an hour”, Google translated the word “jobs” into “trabalhos”, which is one of its meanings. However, in this context, “jobs” refers to “car” and not “work”, and the automatically translated text does not make any sense. We can affirm this based on the following words: “can do around two hundred miles an hour”, which is a characteristic of a vehicle. The professional translator understood it and hence translated it to “[…] um desses carrinhos ingleses que fazem uns trezentos quilômetros por hora”.

Another part that may be used as an example is the saying “Strictly for the birds”. In the automatic translation, it became “Estritamente para os pássaros”, which is its literal meaning; however, according to the Cambridge Dictionary, “strictly for the birds” is an expression that means “not worthy of consideration”. In other words, it   may be translated as “Tudo mentira”, which is a choice that the machine is not able to make. In the professional translation, “Pura conversa fiada”, which informally means “lie” in English, was used.

While the author wrote “[…] you could see the two teams bashing each other all over the place”, the automatic translator translated it to “[…] e as duas equipes se baseando em todo lugar.” The meaning of the word “bashing” is a physical attack on someone, or is the act of hitting someone, according to Cambridge Dictionary. “Basear-se”, on the other hand, means “to be based”, which cannot be considered a correct translation. The result is an  incomprehensible text. The professional translator, however, transformed it to “Dali podia ver o campo todo, os dois times se massacrando por toda a parte”. Although the word  massacrando” is close to “slaughtering” in English, it is also an informal expression that can be related to “bashing” in this context.

Proceeding to the last analysis of the chosen part of the book, we see the excerpt “You couldn’t see the grandstand too hot, but you could hear them all yelling, deep and terrific on the Pencey side […]”. This sentence means that the Pencey’s – the preparatory school – crowd was enthusiastic and overjoyed, and almost the whole school’s students were there; it was translated by Google as “Você não podia ver a arquibancada muito quente, mas podia ouvi-los todos gritando, profundos e fantásticos no lado de Pencey […]”. In the professional translation, the sentence was translated to “Não dava para ver direito as arquibancadas, mas dava para se ouvir os gritos da torcida, fortes e terríveis do lado do Pencey […]”, using the words “fortes” and “terríveis” to describe the enthusiasm. Although the professional translation makes more sense for not being too literal and having an intelligent interpretation behind it, “terrific” does not mean “terríveis”, which makes us wonder whether it is a mistake or the actual intention of the professional to add this meaning to the scene being described. We do not believe an automatic translator would make a mistake regarding false cognates.

Finally, in “[…] and scrawny and faggy on the Saxon Hall side […]” the automatic translator translated the words “scrawny” and “faggy” as “magricela” and “bicha”, but actually, in this phrase, the meaning is that the Saxon Hall’s – the adversary school – crowd was discouraged and unhappy. And the second sentence mentioned became “débeis e desanimados do pessoal do Saxon Hall […]”, using the words “débeis” and “desanimados” to describe the unhappiness in the other side, which resulted in a more fluent text. Additionally, punctuation is different in the professional translation, in which an em-dash was used to isolate the phrase “menos eu” (“except me”). Although the use of punctuation is similar between English and Portuguese, some changes may improve the target text, which is done only by a human translator.

…..

A AUTOCOLOCAÇÃO DOLOSA EM RISCO E HETEROCOLOCAÇÃO CONSENTIDA EM A BALADA DE ADAM HENRY DE IAN MCEWAN

ROSÁLIA MARIA CARVALHO MOURÃO

A obra The Children Act (2014) foi traduzida no Brasil como A balada de Adam Henry de Ian McEwan, publicado pela Companhia das Letras em 2014 e tradução de Jorio Dauster narra a atuação da juíza do Tribunal Superior Fiona Maye em vários casos na vara da família, em que Direito, Religião e Moral estão presentes nos argumentos nos tribunais. Segundo Fiona Maye: “Todo esse sofrimento tinha temas em comum, refletindo a uniformidade dos comportamentos humanos, mas continuava a fasciná-la. Ela acreditava ser capaz de injetar razoabilidade em situações onde não havia mais esperança” (MCEWAN, 2014, p. 11). Ao mesmo tempo, que Fiona julga os casos, passa por uma crise conjugal séria, após 35 anos de um casamento estável, seu marido fala abertamente que quer ter um caso extraconjugal, mas não quer o divórcio, pois ainda a ama, mas sente falta de sexo e de sentir algo que o faça se sentir vivo.

…..

O PODER DA UTOPIA: MILO; E TAMBÉM ALICE E DOROTHY OU NO RASTO DE THOMAS MORE

ISABEL PEREIRA LEITE

Cabe, aqui, referir que Monteiro Lobato (S. Paulo, 1882-1948), jurista e escritor, foi quem primeiro traduziu Alice’s Adventures in Wonderland e Through the Looking Glass para a língua portuguesa e que Maria Lamas (Torres Novas, 1893-1983), dedicada à escrita para a infância e mulher de intervenção política, se encarregou da 1.ª edição portuguesa de The Wonderful Wizard of Oz. Quanto a Jório Dauster (Rio de Janeiro, 1937), importante diplomata, chamou a si a tradução de The Phantom Tollbooth. Temos, portanto, entre mãos obras de vultos notáveis: Lewis Carroll (Cheshire, 1832-1898), distinto matemático; Frank L. Baum (New York, 1856-1919), aclamado argumentista e Norton Juster (New York, 1929), renomado arquiteto (v. bibliografia primária).

…..

COSA C’È IN UN NOME? ENTREVISTA COM AURORA FORNONI BERNARDINI

MÁRIO COUTINHO

Ainda que eu conheça traduções até a seis mãos (posso citar a tradução de Apanhador no Campo de Centeio, assinada por Jorio Dauster, Álvaro Alencar e Antônio Rocha), traduções a quatro mãos ainda são relativamente incomuns. Quais são os desafios na padronização do texto final e nas escolhas feitas ao se traduzir um texto em parceria?

Esta é uma questão crucial. Os critérios têm que ser bem claros, para não haver pastiches ou hibridações de estilo. Com Homero o contrato, no que se refere à literatura italiana, era o seguinte: vamos fazer um ensaio: ambos traduzimos o mesmo capítulo e checamos o efeito. Decidimos ambos, no fim, qual é o mais conveniente. Em Os Malavoglia, por exemplo, o do Homero ganhou. O que faz o outro parceiro? Uma coisa importantíssima que se chama revisão. Revisão gramatical, sintática, mas principalmente estilística, o que implica a escolha de sinônimos, a substituição de expressões, o cuidado com o ritmo etc. A esse respeito lembro um episódio de O que é a arte de Tolstói. Certa dama da sociedade levou a Tolstói um manuscrito de sua autoria pedindo ao mestre que desse sua opinião. Quando foi retirá-lo, o manuscrito estava pleno de riscos e de adendos e Tolstói foi lapidar: “aqui está, minha  senhora, a diferença entre uma obra medíocre e uma obra literária”. No comment.

…..

A SIVILIZAÇÃO-CIVILIZAÇÃO DE HUCKLEBERRY FINN: UMA PROPOSTA DE TRADUÇÃO

VERA LÚCIA RAMOS

O plágio da Martin Claret

“O que foi feito é uma apropriação indébita, é quase o equivalente a roubar uma sepultura. O mais chocante é que não foi uma coisa ocasional, era uma política editorial”, diz Jorio Dauster, tradutor de Vladimir Nabokov e J.D. Salinger, entre outros.

Quem presta um pouco de atenção no mercado editorial não se surpreendeu muito ao ler que a Martin Claret plagiou traduções de clássicos, omitindo os nomes dos verdadeiros tradutores e seus direitos violados.  Criada nos anos 70, em São Paulo, pelo gaúcho Martin Claret, a empresa tem em seu catálogo cerca de 500 títulos de domínio público (de escritores mortos há mais de 70 anos) publicados em formato de bolso (preços de R$ 10,50 a R$ 18,90). Quatro casos de plágio estão confirmados: edições de “Os Irmãos Karamazov”, “A República”, “As Flores do Mal” e de três novelas de Franz Kafka reunidas num único volume-”A Metamorfose”, “Um Artista da Fome” e “Carta a Meu Pai”. Lançada em 2003, a edição de “Os Irmãos Karamazov”, de Fiodor Dostoievski (1821-1881), tem como tradutor um certo Alexandre Boris Popov, que não consta entre os poucos nomes que costumam passar obras do russo para o português. Na verdade, é cópia da tradução concluída em 1944 por Boris Schnaiderman para a extinta editora Vecchi. (…) Pietro Nassetti teria traduzido Shakespeare, Maquiavel, Descartes, Rousseau, Voltaire, Schopenhauer, Balzac, Poe e outros. “Se esse cara trabalhasse 24 horas por dia durante 60 anos, não traduziria nem a décima parte disso”, afirma o especialista Ivo Barroso.

Em alguns casos, como em “O retrato de Dorian Gray”, até os erros das traduções anteriores são reproduzidos. “Suit of armor”, ou “um jogo completo de armadura”, foi traduzido por Oscar Mendes por “coleção de armaduras”. Em outro exemplo, “exquisite life” vira “vida estranha”, quando o correto seria bela, maravilhosa, refinada. Ambos equívocos, entre outros, são repetidos na tradução atribuída a Maria Cristina F. da Silva.

…..

AS DEFORMAÇÕES DA REALIDADE DE ÉDIPA MASS: UM ESTUDO SISTÊMICO-FUNCIONAL DA REPRESENTAÇÃO DA PARANOIA EM THE CRYING OF LOT 49, DE THOMAS PYNCHON, E EM SUA TRADUÇÃO PARA O PORTUGUÊS BRASILEIRO

LUCAS FELIX DOS SANTOS

O presente trabalho visa investigar, por meio de uma abordagem sistêmico-funcional e psicanalítica, a representação da paranoia no texto literário a partir da perspectiva da protagonista do romance The crying of lot 49, de Thomas Pynchon, e em sua respectiva tradução para o português brasileiro, intitulada O leilão do lote 49. A tradução para o português brasileiro, intitulada O leilão do lote 49 — tradução feita pelo tradutor Jorio Dauster e publicada em 1996.Percebe-se que o tradutor do romance optou por manter uma abordagem mais literal em sua tradução, o que resultou em uma obra que pode ser considerada ideacionalmente equivalente, devido à baixa frequência de mudanças ideacionais.

…..

SOBRE A EROSÃO DA FORMA: LOLITA E O MODERNISMO TARDIO

TAUAN FERNANDES TINTI

A tradução de Sérgio Flaksman de 2011, citada ao longo deste trabalho, mantém o nome de McFate; já a tradução anterior, de Jorio Dauster, apresenta a solução interessante de traduzir o nome por McKarma.

É importante salientar que a tradução por Flaksman de “one wanted H. H. (…)” por “eu queria que H. H.” é totalmente injustificável, mudando completamente o sentido do parágrafo final e no limite atribuindo a Humbert uma autoconsciência de seu estatuto ficcional que de modo algum se sustenta – algo que se mostrará essencial para a interpretação que se quer desenvolver nessas páginas. A tradução de Jorio Dauster de 2003, por exemplo, traz a construção muito superior “era desejável que H. H. existisse (…)”, que mantém a impessoalidade necessária para uma das ambiguidades fundamentais para o desfecho do romance.

Dificilmente causará surpresa o fato de que o velho poeta citado por Humbert seja outra das figuras fictícias de Nabokov – o que, de novo, não implica que seja também invenção do narrador. Mas, espera-se, não precisamos voltar outra vez a esse assunto, já que é o conteúdo tremendamente ambíguo dos versos que agora nos interessa, para além da realidade de seu autor. A tradução de Sergio Flaksman nos dá por estes versos o dístico “Entre os mortais, o senso moral é o imposto / Pago para sentirmos do belo o mortal gosto”; já a mais antiga, de Jorio Dauster, altera significativamente o segundo verso, com “Este senso moral dos mortais é o tributo / A pagar pelo senso da mortal beleza” (NABOKOV, 2003, p.286). É necessário aqui irmos aos poucos, já que cada um dos termos é carregado de sentido, sendo um deles significativamente alterado por meio de sua reiteração em contextos ligeiramente distintos: se não há dúvida de que o senso moral diz respeito aos mortais, é difícil saber se o segundo verso trata do senso mortal da beleza ou do senso da beleza mortal.

É assim que o ateísmo protestante de Humbert Humbert deve ser lido: como a recusa enfática de sequer cogitar sua própria ficcionalidade e tudo o que ela acarretaria. Os termos tem perfumes metafísicos, mas estes apenas disfarçam o conteúdo efetivamente metaficcional que vem a reboque. A expressão “in the infinite run” – “a prazo infinito”, ou “nas dobras infinitas do tempo”, na versão adequadamente floreada de Dauster – é temporal somente na aparência, já que aponta menos para a apocatástase do que para um ponto de vista suficientemente distante a ponto de possibilitar a mudança qualitativa que é terminantemente proibida para um narrador incapaz de se desenvolver e transformar em qualquer outra coisa que não ele mesmo: um criador artístico que organiza seus materiais de acordo com padrões abstratos, mas imanentes às obras, e para quem as convenções do realismo são pouco mais do que as breves instruções na caixa que guarda as peças e o tabuleiro, levadas em conta apenas na medida em que não entrem no caminho de sua própria diversão com o jogo.

…..

CONTRASTANDO MARCAS DE ORALIDADE EM TRADUÇÕES DE “ALTA LITERATURA” E DE “BEST-SELLERS DE FICÇÃO POPULAR”: ERNEST HEMINGWAY E AGATHA CHRISTIE

LAURO MAIA AMORIM

Trechos do livro Indignation, de Philip Roth (2008), traduzido por Jorio Dauster:

“You can’t believe what some of those women will put you through before they buy their chicken,” he told me. And then he would mimic them: “‘Turn it over. No, over. Let me see the bottom.’”

“Você não acredita o que algumas dessas mulheres te obrigam a fazer antes de comprar uma galinha”, ele explicava. E aí as imitava: “Vira ela. Não, pro outro lado. Deixa eu ver a parte de trás”.

“Knock it off, Bert,” said one of the other boys. “Shut up and let him go to sleep.”

“Para com isso, Bert”, disse um dos outros rapazes. Cala a boca e deixa ele ir dormir.”

Nossa hipótese, no entanto, é de que este último fator não seria a lógica que estaria em jogo quando se trata de tradução da variação diafásica. A variação diafásica envolve as diferenças linguísticas derivadas do registro formal ou informal. Ocorre que, como bem nos lembra Britto (2012), a distância entre o registro informal escrito e o propriamente falado não é tão grande quando se tratam de diálogos ficcionais escritos em língua inglesa. É caso do exemplo (já visto anteriormente) extraído do romance de Philip Roth: “Turn it over. No, over. Let me see the bottom” (ROTH, 2013, p. 05). A fala em si é próxima da oralidade (num contexto em que uma cliente está dando uma ordem ao açougueiro para virar o frango para observar melhor o produto ela que pretende comprar). Essa fala, tal como escrita na ficção, não é  muito diferente do que seria dito numa situação real, de oralidade em língua inglesa. Por envolver uma variação diafásica de natureza informal, não exibindo diferenças acentuadas de classe social (diastráticas) nem de ordem geográfica (diatópicas), não há, no trecho em inglês, nada que se destaque visivelmente das demais falas de outros personagens do romance de Roth (diferentemente do que ocorre nas obras de Shaw e Twain, com elementos linguísticos visivelmente estigmatizados). A inexistência de marcas mais visíveis, no inglês, justamente por envolver predominantemente a variação diafásica, pode levar o tradutor, e mesmo o editor (sem muita consciência sociolinguística), a se aterem a formas linguísticas, na tradução, mais linhadas à formalidade e até às regras ditadas pela tradição gramatical normativa, sob pena de possivelmente atraírem críticas pautadas no argumento (certamente problemático) de que não haveria, visivelmente, no original, desvios que justifiquem o uso de formas linguísticas mais próximas da oralidade.

É claro que no caso do trecho em questão, extraído do livro Indignation, de Philip Roth, o tradutor, Jório Dauster, optou pela representação da variação linguística diafásica, não  sendo, portanto, um exemplo prototípico da aplicação de normas tradutórias mais conservadoras como exposto acima.

…..

CAPITAL SIMBÓLICO, PÚBLICO LEITOR E A TRADUÇÃO DE BEST-SELLERS: A QUESTÃO DA REPRESENTAÇÃO DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA EM ANDROIDES SONHAM COM OVELHAS ELÉTRICAS?, DE PHILIP K. DICK, E EM STAR WARS: PROVAÇÃO, DE TROY DENNING

LAURO MAIA AMORIM

Em meus artigos discuto essas relações, com resultados interessantes, porém preliminares, envolvendo o levantamento de marcas de oralidade, que se atêm à variação linguística diafásica em diferentes obras traduzidas. No primeiro artigo publicado apresentam-se os resultados de uma pesquisa envolvendo a análise dos diálogos ficcionais do romance O manipulador, de John Grisham (best-seller de ficção de gênero), traduzido por Maira Parula (editora Rocco/2013), e Indignação, de Philip Roth (obra representante da “alta literatura” ou literatura de prestígio), traduzido por Jorio Dauster (editora Companhia das Letras/2009).

…..

FOCALIZAÇÃO NA TRADUÇÃO DE TEXTOS LITERÁRIOS

CÉLIA M. MAGALHÃES

Da mesma forma, um focalizador interno pode perceber um objeto de fora ou de dentro. A focalização de fora ocorre quando a percepção do focalizador interno está limitada ao exterior do objeto focalizado, enquanto a focalização de dentro ocorre, especialmente, quando o focalizador é simultaneamente o focalizado. Os dois tipos de focalização são ilustrados nos exemplos a seguir. Já o exemplo 8), retirado de Enclausurado, de Ian McEwan e traduzido por Jorio Dauster, mostra a narração de um focalizador interno cujo focalizado é ele próprio:

“Então aqui estou, de cabeça para baixo, dentro de uma mulher. Braços cruzados pacientemente, esperando, esperando e me perguntando dentro de quem estou, o que me aguarda. Meus olhos se fecham com nostalgia quando lembro como vaguei antes em meu diáfano invólucro corporal, como flutuei sonhadoramente na bolha de meus pensamentos num oceano particular, dando cambalhotas em câmera lenta, colidindo de leve contra os limites transparentes do meu local de confinamento, a membrana que vibrava, embora as abafasse, com as confidências dos conspiradores engajados numa empreitada maléfica.”

…..

DO SURGIMENTO DO NOVEL INGLÊS À PUBLICAÇÃO DE NUTSHELL (2016) DE IAN MCEWAN: ATUALIZAÇÕES DO ROMANCE NAS LITERATURAS DE LÍNGUA INGLESA

YURI JIVAGO AMORIM CARIBE

No Brasil, também percebemos considerável receptividade aos trabalhos de McEwan por parte do mercado editorial, da crítica literária especializada e dos leitores, especialmente pelo fato de Enclausurado (a tradução) ter sido publicado pouco tempo após o lançamento de Nutshell em Londres. Dessa vez, o texto em Língua Portuguesa ficou a cargo do reconhecido Jorio Dauster (1937-), que já havia traduzido outros romances de McEwan, além de outras grandes obras das Literaturas de Língua Inglesa.

O título original da obra Nutshell também faz referência a uma passagem de Hamlet (ato II, cena II) em que o Príncipe Hamlet lamenta os pesadelos (reais) que o atormentam e diz: “O God, I could be bounded in a nutshell159, and count myself a king of infinite space, were it not that I have bad dreams”. Na tradução de Jorio Dauster a fala de Hamlet é a seguinte: “Deus, eu poderia viver enclausurado dentro de uma noz e me consideraria um rei do espaço infinito – não fosse pelos meus sonhos ruins” (2016b). Nesse caso, acreditamos que a casca de noz é uma metáfora ao ventre materno, onde o feto está enclausurado.

…..

LOLITA’S LOVE AFFAIR WITH THE ENGLISH LANGUAGE: HETEROLINGUALISM AND VOICE IN TRANSLATION

MARGARIDA VALE DE GATO

Ensaio da mais recente tradutora de Lolita para o português de Portugal contendo inúmeras referências à minha tradução.

…..

HOLDEN CAULFIELD E A MARGINALIZAÇÃO DO SUJEITO – REPRESENTAÇÃO LITERÁRIA DO INDIVÍDUO À MARGEM

GABRIEL BOTH BORELLA

No Brasil, toda a sua obra foi traduzida. O apanhador no campo de centeio, Franny and Zooey e Nove estórias compõem o catálogo da Editora do Autor. O apanhador, traduzido em 1965, por Álvaro Alencar, Antônio Rocha, e Jório Dauster, ainda é o carro-chefe da editora, e contabiliza, na sua 19a edição, 350 mil cópias vendidas. As outras duas obras foram traduzidas e publicadas em 1967, mas por serem pouco conhecidas do público, vendem menos exemplares. A quarta obra, Raise High the Roof Beam, Carpenters and Seymour: An Introduction, teve duas traduções. A atual, de Jorio Dauster, é publicada pela editora L&PM sob o título de Carpinteiros, levante bem alto a cumeeira & Seymour, uma apresentação, e a anterior foi publicada nos anos 1980 pela editora Brasiliense e tinha o título de Pra Cima com a Viga, Moçada!

…..

ПРЕЛОМЛЕНИЕ ЗЕМНЫХ РЕАЛИЙ В МИРЕ ТЕРРЫ И АНТИТЕРРЫ НАБОКОВСКОЙ «АДЫ

 XENIA LEONTYEVA

“He should be familiar with the matter as a result of his psychiatric training. During the summer of 1960, however, Van is only 90 years old and apparently in good health.” (Jorio Dauster, private communication).

  • COMO NEGOCIADO DA DÍVIDA EXTERNA

COLLOR DE MELO

Collor (PTB-AL) se manifesta hoje sobre o empréstimo compulsório que deixou apenas 50 mil cruzados novos nas contas correntes e poupança. Não tínhamos celular, fizemos uma campanha sem qualquer memória em relação a eleições anteriores, coordenar uma logística nacional era uma coisa absurdamente difícil. Hoje, temos celulares, computadores de última geração, ninguém mais pensa em reservas de mercado, ninguém mais tem medo de privatizações, a dívida externa está equacionada, e o início foi ali, no meu governo. Meu negociador da dívida externa foi o embaixador Jório Dauster, que fez um extraordinário trabalho e reabriu as portas para o Brasil.

…..

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS – CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL (CPDOC)

FUNDAÇÃO CSN

MARIA SILVIA BASTOS MARQUES (depoimento, 1999)

F. – Então eu acho que não podemos cair direto na sua atuação na CSN.

M.M. – Vamos começar lá, então. Na verdade, eu trabalhei o governo Collor inteiro, uma parte com o Kandir e outra parte não foi com o Kandir, foi no próprio BNDES. Com o Kandir, eu trabalhei um ano e dois meses na negociação da dívida externa. Na verdade, o chefe da negociação da dívida externa era o embaixador Jório Dauster, que hoje é o presidente da Vale.

…..

A NOTÍCIA 

Novo colapso no meio

Mas o Brasil entraria em colapso em 1987 ao decretar a moratória dos juros da dívida externa. No ano seguinte, o governo Sarney tenta sair da moratória buscando apoio do FMI, mas não tem êxito nessa negociação. A situação do País só se deteriora. A moratória fecha os vasos comunicantes com a comunidade financeira internacional, e o País acumula sucessivos atrasos nos pagamentos dos juros.

O embaixador Jório Dauster, o primeiro negociador oficial da dívida externa brasileira, inicia a renegociação, só concluída anos depois por Pedro Malan. Malan conclui a renegociação de US$ 57 bilhões da dívida externa brasileira com 800 bancos credores, no âmbito do Plano Brady, que permite o reescalonamento por 30 anos. O acordo é fechado sem que se esteja sendo monitorado pelo Fundo.

…..

  • COMO CEO DA VALE

BENJAMIN STEINBRUCH

DANIEL STYCER E LIANA MELO 

Istoé – Comenta-se que, apesar de a Vale ser hoje uma empresa privada, teria saído de dentro do governo a indicação do ex-embaixador Jório Dauster para o cargo de presidente-executivo. É verdade?

Benjamin Steinbruch – Não é verdade. Fui eu quem indicou Jório Dauster. Eu o conheci através da minha diretora corporativa na CSN, Maria Sílvia Bastos Marques, que teve oportunidade de trabalhar com ele na época do governo Collor de Mello. O Dauster era o negociador da dívida externa brasileira. Acho que eu tenho algum crédito nesta indicação. Estava procurando uma pessoa idônea, que soubesse trabalhar em equipe, que fosse um trabalhador duro e que prevalecesse a transparência e lealdade dentro da equipe.

…..

UNIVERSITÉ DE LA SORBONNE PARIS IV

HILDETE DE MORAES VODOPIVES

LA MONDIALISATION, INTERNATIONALISATION DES ENTREPRISES BRÉSILIENNES, LE CAS DE VALE 1997-2002

Cobre todo o período em que fui CEO da VALE e mostra o importante progresso então feito:

1999 Jorio Dauster Magalhães e Silva est nommé PDG. Fin du modèle décentralisé. Avec cette structure, le conseil d’administration était capable d’un accompagnement plus proche des opérations. J. Dauster Magalhães e Silva reconnait qu’au début, ce modele était efficient mais que par la suite il commence à perdre son efficacité. Pour cette raison, la structure change et il est nommé le PDG de la compagnie à partir de 1999. Il était recommandé par Maria Silvia Bastos Marques, à l’époque, PDG de CSN. Déjà l’idée que « Vale  est devenue une grande transnationale » est confirme par J. Dauster Magalhães e Silva, qui avant de travailler à Vale, était diplomate et négociateur à Bruxelles.

La société commence un nouveau parcours marqué par la répartition des forces au sein des nouveaux actionnaires, aboutissant à la réorganisation et au plan stratégique. Un plan qui prévoit une croissance très forte et diversifiée dans ses opérations. Le Plan stratégique 2001 est un jalon dans l’histoire de Vale. Dès cet instant, la société prend une direction claire, fondée sur deux objectifs: accroître leur valeur et la durabilité. Vale  se définie comme une entreprise globale et est cohérente d’élargir leur internationalisation.”

…..

A INFLUÊNCIA DO ESTADO NO CRESCIMENTO DA ECONOMIA DO SETOR MINERAL: o caso da CVRD de 1942 a 2010

RAIMUNDO VALDOMIRO DE SOUSA

O empresário que integrou o consórcio vencedor do leilão “Benjamin Steinbruch se fora levando consigo seu bilhão de reais”. A saída de Jorio Dauster da presidência da CVRD, em 2001, significava que 4 anos depois da privatização de seu controle acionário o grupo Bradesco assume o comando administrativo. A saída de Jorio completou o desligamento de Benjamin Steinbruch, que era “o resultado da teia de ligações, umas claras e outras obscuras, na qual foi tecida a privatização da empresa federal.”

…..

TETE: HISTORICAL MEETING PLACE FOR BRAZILIAN AND MOZAMBICAN DEVELOPMENTALIST ELITES?

ANA RIBEIRO, CENTRE FOR AREA STUDIES, UNIVERSITÄT LEIPZIG

Brazilian diplomats, and even Mozambique President Chissano, kept insisting on Vale’s participation in the Moatize coal project, but the company kept vacillating on it until the early 2000s – sometimes within weeks. A July 3, 2000 cable from Itamaraty to the embassy in Maputo stated that ambassador Jório Dauster, Vale’s then-president, had affirmed that Vale had “no interest in exploring coal,” and therefore did “not intend” to get involved at Moatize. Less than a month later, following a meeting between Chissano and Brazil President Fernando Henrique Cardoso, Itamaraty sent a new cable to the embassy in Maputo saying that, actually, Vale might decide to participate in exploring at Moatize if it found that the progress of related projects had been satisfactory.89 It turns out the Brazilian government had recently decided to build new power plants in the state of Maranhão, for which Vale would need coking coal, but the company rejected the idea of having to fund building transport and other infrastructure for the Moatize project.90 Interestingly, in 2003, the international publication Mining Weekly reported that Vale was aiming “to offer Maputo a complete, integrated package comprising finance, mine, railway, port, and customers. The company believes that this is the only sure way to achieve success with Moatize.”91 As if it had been Vale’s idea all along…

  • COMO ARTICULISTA POLÍTICO

O RECALL POLÍTICO COMO UMA NOVA PROPOSTA DEMOCRÁTICA

DR. PAULO ROBERTO VERONEZE (PUCPR – CAMPUS MARINGÁ)

FABIO CANDIDO DO PRADO (PUCPR – CAMPUS MARINGÁ

A revista Época publicou uma matéria em 2016 com o título, “Um recall político é uma saída para a crise brasileira?”, duas entrevistas foram realizadas, uma com o ex-embaixador Jório Dauster, outra com o ministro do STF, Marco Aurélio Mello. Jório confirma seu otimismo, “O ex-embaixador Jório Dauster diz que a possibilidade de os eleitores destituírem os governantes antes do fim do mandato é uma forma madura de cidadania” . Já o ministro entende de maneira diferente tal instituto, “O ministro do STF Marco Aurélio Mello diz que o recall levaria a uma instabilidade política muito grande, que causaria insegurança para todos – e não apenas para os governantes”.

  • COMO DIRETOR DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA DO INPI

BREVE PANORAMA DA ATUAÇÃO DO INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL (1970-1984)

LEANDRO M. MALAVOTA

O INPI foi instituído por meio da Lei n.º 5.648, de 11 de dezembro de 1970, como uma autarquia vinculada ao Ministério da Indústria e Comércio (MIC), tendo como atribuições a execução das normas reguladoras da propriedade industrial e a efetuação do controle e regulação sobre o comércio de tecnologia no Brasil. A Presidência da nova autarquia ficou a cargo de Thomaz Thedim Lobo, militar da Marinha e diretor do extinto DNPI desde 1969. Este indicaria Arthur Carlos Bandeira, oficial da Aeronáutica, para a chefia da equipe de análise de contratos de transferência de tecnologia. Este setor, centro nervoso da nova instituição, contaria ainda com nomes como Jório Dauster e Antônio Patriota, diplomatas cedidos pelo Itamaraty, e Antônio Luís Figueira Barbosa, indicação do economista Carlos Lessa, figura respeitada dentro da comunidade acadêmica.