A  LINGUAGEM DOS  CARTAZES

Se as traseiras dos caminhões já foram aceitas como fonte literária, por que não os cartazes e faixas exibidos em eventos populares, inclusive nas manifestações políticas? Será que alguém já se dedicou a colecionar tais dizeres? Imaginando que haja um enorme contingente de admiradores desse gênero aparentemente inédito, trato de dar o pontapé inicial com dois exemplos de origem estrangeira (também valem, né?). O primeiro foi visto numa passeata de indianos e paquistaneses na Inglaterra, revoltados com atos de racismo praticados contra suas comunidades: WE are HERE because YOU were THERE (NÓS estamos AQUI porque VOCÊS estiveram LÁ). O segundo apareceu numa reportagem sobre os distúrbios raciais de Watts, já lá vão muitos anos, quando aquele bairro negro de Los Angeles literalmente ardeu. Na foto, entre um supermercado e uma loja de aparelhos domésticos, espremia-se modesta tinturaria portando um daqueles inevitáveis nomes chineses e o patético cartaz: I am colored too (Eu também sou de cor). Escusado dizer que os três estabelecimentos haviam sido total e indiscriminadamente arrasados.